Res(v)oluções de Ano Novo 

E lá vamos nós outra vez, dando início a mais um ciclo de nossas vidas. A cada 365 dias, passamos por esse ritual renovador de mudar o calendário e, com esse simples gesto, buscamos mudar também uma porção de outras coisas. “Ano novo, vida nova” diz o já velhíssimo ditado! Mas, cá entre nós, se o ditado é velho é porque alguma sabedoria ele carrega.

Mudança de ano é época de introspecção, revisão de vida, de rumos, de posturas, de êxitos e insucessos. Quem deixa de fazer esse importante balanço, e escolhe viver a passagem de 31 de dezembro a 1 de janeiro como uma noite qualquer, pode estar perdendo uma grande oportunidade.

Por outro lado, não é difícil entender a possível frustração de quem já passou por diversos rituais como esse, produzindo elaboradas listas de resoluções de ano novo, que muitas vezes incluem intenções como parar de beber, perder 10 quilos, ir à academia 5 vezes por semana, apenas para vê-las caírem por terra e não sobreviverem até o Carnaval. Depois de anos passando por tais frustrações, muita gente desiste, e deixa de passar por essa relevante “troca de pele”, que muitas vezes nos renova o fôlego e, porque não dizer, as esperanças.  

Mas por que será que isso acontece? Por que será que nossas intenções de mudanças muitas vezes não passam de fevereiro? Que tal começarmos por diferenciar intenção de resolução?

A definição de intenção diz: “Aquilo que uma pessoa espera que aconteça; o que se pretende fazer”. Enquanto a definição de resolução diz: “Decisão tomada após muito pensar; solução; maneira através da qual se resolve uma questão, um caso, uma situação”. Percebeu a diferença? Por trás de uma intenção, existe alguém esperando que algo aconteça, enquanto por trás de uma resolução, é imperativo existir alguém resoluto (determinado em seus objetivos, em seus propósitos; decidido).

Portanto, por definição, quem toma uma resolução tem que fazer algo diferente, além de apenas ter uma boa intenção. Demanda uma força de vontade e uma disciplina especial, uma determinação que vai além de fingir que não vai ver aquela cerveja que está na geladeira desde o réveillon, ou esperar que não seja convidado para uma festa de aniversário de criança, cheia de doces pelos próximos 12 meses. Aquele que tem apenas a intenção vai acabar tomando a cerveja no primeiro dia quente, e vai se encher de frustrações, esperando mais doze meses para renovar seus votos abstêmios. O resoluto jogará a cerveja ralo abaixo, e não comprará mais nenhuma, pois existe nele uma decisão.

Outra questão importante para se considerar, são os tipos de mudanças ou metas que servirão de conteúdo para nossas resoluções. Se nos concentrarmos em objetivos puramente externos, como conseguir uma promoção, graduar-se em algum assunto, juntar uma soma financeira, comprar um carro novo, estaremos investindo nosso tempo e energia em metas que trazem dois (pelo menos) problemas intrínsecos. Primeiro, são metas das quais não controlamos todas as variáveis e, por mais que nos esforcemos, muitas vezes fatores fora de nosso alcance podem limitar nossos resultados. Segundo e mais importante, essas metas externas não nos transformam de dentro para fora. São, em sua maioria, ilusões, que nos fazem crer que, se a atingirmos, seremos finalmente felizes. Mas quando lá chegarmos, teremos outra promoção para perseguir, outra certificação para buscar, mais dinheiro para ganhar, um carro ainda mais moderno para comprar, e nos vemos frustrados, ansiosos e angustiados, perseguindo alvos móveis que funcionam como iscas, que nos arrastam para cada vez mais longe do que realmente importa. Ou até mesmo nos servem de distrações que criamos e alimentamos, para não enfrentarmos nossos verdadeiros problemas, nos afastando assim das metas e objetivos essencialmente transformadores.

E que objetivos seriam esses? Obviamente essa resposta será algo diferente de pessoa para pessoa, mas a sugestão é que façamos uma reflexão mais profunda sobre quem realmente queremos ser como indivíduos. Quem é a pessoa que quero ser? Mais saudável? Mais espiritualizada e mais próxima de Deus? Se relacionando melhor com as pessoas amadas? Mais amorosa e caridosa com o próximo? Mais tolerante? Mais culta ou bem-informada? Essa resposta será de cada um, de acordo com as carências pessoais.

Aproveito para lhes dar uma dica que pode realmente ser muito reveladora. Vista-se de humildade e pergunte para as pessoas que ama (cônjuge, filhos, pais, melhores amigos) sobre o que você poderia melhorar em seus respectivos relacionamentos. Esteja pronto para feedbacks poderosíssimos. Verdadeiras pepitas de ouro, se soubermos usá-las em nosso favor, no caminho de melhorarmos como pessoas.

Uma vez identificadas as mudanças que queiramos operar, podemos então definir objetivos mais alinhados com essa transformação que buscamos e, com isso, conquistar maior firmeza de propósito. Definidos os objetivos, a ideia é escrevê-los numa folha de papel ou num arquivo Excel e posicioná-los em um lugar do quarto, ou do computador, em que sejamos forçados a vê-los e lê-los todos os dias. Devemos renovar nossa resolução em cumprir com as metas diariamente. Novos hábitos tomam de 21 a 30 dias para se estabelecerem, portanto, sejamos pacientes. Periodicamente, façamos uma avaliação de como estamos indo e do progresso alcançado.

Muito trabalho? Pois é isso que separa o intencionado do resoluto. Este último está disposto a fazer o trabalho necessário para atingir o resultado, o outro espera que o resultado aconteça.  

Muito importante também é não desanimar com pequenos insucessos, pois eles irão ocorrer, e devem ser vistos como parte do processo. O que importa é perseverar e perseguir as mudanças no longo prazo. Mesmo que os progressos sejam modestos, são progressos, e no final do ano já seremos melhores pessoas.

E finalmente, se fizermos isso ano após ano, seremos capazes de nos revolucionar, transformando nossas resoluções em revoluções pessoais. Toma tempo, mas só as mudanças que são conquistadas através dos dias, semanas e meses de trabalho duro, são as que realmente vem para ficar.

E então, quem seremos nesse ano que se inicia? Intencionados ou resolutos? Pronto para revolucionar-se?

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